Qualquer usuário da comunidade Globoonliners razoavelmente atento já deve ter percebido a chegada do Jorge Antônio e do seu blog “1.d vista”, cujo tema é : “Literatura, contos, crônicas, poesias, novos autores.” Jorge cadastrou o seu perfil no último dia 17 e, em pouco mais de dez dias, disparou e já é o líder absoluto em comentários da comunidade. Seu sucesso é tal, que desde a última sexta-feira, dia 25, o seu blog passou a fazer parte do blogs indicados na primeira página. É o primeiro blogueiro “independente” que tem a chancela do Globo Online, nesta comunidade.
Inaugurando os nossos bate-papos aqui na “Segunda Blogada”, claro que ele foi o convidado da vez, afinal, a pergunta que não quer calar é: Quem é o Jorge Antônio?
E, por e-mail , ele me respondeu: Economista graduado pela PUC com mestrado em Ciências Sociais pela Universidade Rural; Ciclista de montanha e escritor; 33 anos, casado, pai de uma filhota linda; Adora o convívio familiar, ler, jogar futebol e passear de moto pelo interior.
Jorge, o que a literatura representa na sua vida?
A conversa entre os autores através dos tempos e dos livros, o legado de histórias e as pontes que lançam entre os escritores e seus leitores, tudo isso sempre me fascinou. O amor pela literatura (além do gosto pessoal) julgo herança dos meus avós: minha avó era jornalista e meu avô editor. Lembro das conversas deles com o Gontijo Theodoro (do Reporter Esso) lá em casa. Do meu avô chegando com um monte de livros novos, recém impressos. Por outro lado, meu autor de referência, Jorge Luis Borges, me foi apresentado por meu pai. A escrita é a maior invenção humana, porque permitiu eternizar a linguagem e a lógica das palavras. E é isso que a literatura representa, hoje, na minha vida: prazer, conhecimento e auto-conhecimento. Sou parte desse processo característico da literatura de contínua evolução, alguém que lê muito e que uma vez ou outra consegue algumas linhas válidas.
Você já publicou algum livro, já teve retorno financeiro ou é ainda um hobby?
Já tive contos, crônicas e poesias publicados em coletâneas. Tenho o projeto de um livro, mas talvez o projeto seja o que me baste do sonho. Ganhei algum dinheiro em prêmios de concursos, prêmios esses que reinvesti na própria literatura promovendo ou patrocinando certames. Sem dúvida, minha relação com a pena é amadorística.
O que te levou a criar o site “Ponto de Vista”?
Ah, essa é uma história bonita. O site surgiu na segunda metade dos anos 90, quando a internet ainda engatinhava no Brasil. Assim que a inclusão digital chegou lá em casa, procurei por uma página onde novos autores pudessem trocar idéias, opiniões e textos. Não encontrei. Conversando com alguns amigos (Bruno Oliveira e Alexandre Bollmann), decidimos fazer nosso próprio sítio. Não foi difícil porque a gente já editava uma revista impressa com textos de autoria própria. Então tínhamos convicção do que queríamos da página. Assim, para “digitalizar” o processo foi um pulo.
Como tem sido essa experiência de dez anos?
Gratificante. No começo deu muito trabalho, especialmente em divulgação. Saímos cadastrando em tudo que era engenho de busca (naquela época não havia o google), colando cartazes na rua (hehe hoje é engraçado lembrar disso) e procurando parcerias do tipo troca de banners. Um ano depois, no início de 1999, o site já havia amadurecido a ponto de começar a receber prêmios e honrarias. A parte mais legal dessa história foi que pudemos, aos pouquinhos, ir recebendo levas e levas de talentos literários à medida em que alcançávamos novos ambientes, como os sites de comunidade, por exemplo. Alguns se chegaram e se foram: o site era amador e houve diversos períodos de estagnação, sem atualização da página. Além disso somos bastante rigorosos no tocante ao registro dos direitos autorais no EDA para publicação. Mas a grande maioria ficou e está aí conosco. Hoje estamos organizados quase como uma associação de escritores, cada um dos mais antigos colaborou um tantinho, uma amiga nossa (Carla Andréa Vignatti) cuidou da hospedagem e temos casa própria desde 2004. O Brasil tem um mercado literário restrito, falta-nos o hábito da leitura. A luta dos autores da página é para difundir essa virtude que se chama literatura pelo país. Nossa grande satisfação é poder desfrutar do convívio de pessoas que gostam de ler, escrever, imaginar e refletir sobre a realidade. Já viu porque me senti em casa no Globoonliners né?
Jorge, pelo que entendi então, vocês foram pioneiros na criação de uma comunidade virtual literária, é isso? Vocês chegaram a ter as ferramentas de comunidade, como blogs, perfis etc? Como funcionava essa comunidade? Como vocês interagiam?
Bem, mais ou menos, acabou que fomos mesmo pioneiros nisso de trocar idéias através da web. Usamos de 99 a 2002 um fórum de CGI, que era provido por um site localizado em http://www.cgiforme.com. Tínhamos 4 “comunidades” na época: “Café Literário”, para debates sobre contos, crônicas e poesias, “Concursos de Poesia” e “Concursos de Prosas”, para receber textos em certames poéticos e “Política e Opinião”, para discussão de outros temas que não diretamente associados à literatura. Escrevo “comunidades” entre aspas, porque cada um desses espaços nada mais era que um fórum de CGI onde os tópicos abertos eram as composições dos amigos e os comentários eram as observações dos demais participantes. Mas havia limites numéricos de postagem diária e moderação para as respostas. Foi necessário levantar esses controles para evitar o flood e discussões vazias, que, pode acreditar, aconteciam! Não tinhamos ferramenta de perfis, os perfis eram feitos na marra: cada um dos participantes tinha uma “cadeira” numa “Academia” que reunia os 35 autores assíduos (sobraram 5 vagas pois a idéia original era fazer 40 como a ABL). Na página da “Academia” havia um resumo sobre os autores.Depois disso veio a onda de comunidades, orkut, 1grau, gazzag e por aí vai. E finalmente passamos a nos organizar em um fórum em phpBB, tal qual pode ser visto em http://www.novaliteratura.com, o qual está em fase de reestruturação pois o site cresceu demais e não temos moderadores suficientes pra cuidar devidamente da página. Daí, mais uma grande razão para o sucesso do Globonliners entre nossos participantes! Logo que conheci o ICOX do Globo, mandei convite para cerca de 20 amigos que achei que iam curtir mais a nova página. E eles gostaram!
Maravilha, Jorge! E vocês estão mesmo fazendo sucesso no Globoonliners. Já visitei alguns perfis e blogs, já recebi alguns comentários no meu. Muito bacana. E que poesias lindas! Já participei também das sua brincadeiras virtuais interativas. A gente até podia combinar um “ola” virtual, você já fez algum? Uma frase, qualquer coisa que passe por todos os blogs, em seqüência. Depois a gente combina, que tal?
Adorei a idéia da ola! Vamos ver se marcamos pra breve! Tem um tipo de evento muito bacana que a gente faz de vez em quando, é o Encontrão Literário. Mas isso eu vou deixar como uma surpresa a ser revelada numa futura blogada hehehe!
Oba! :) Agora, falando de blogs propriamente, que conselho você daria a alguém que queira ter um blog ativo e bem sucedido como o seu?
Cara entrevistadora, é um pouco engraçado pra mim responder a essa pergunta, porque esse é o meu primeiro blog e eu, honestamente, não esperava que alcançasse tanta popularidade. Mas tenho algumas certezas dentro dessa curta e feliz trajetória de blogueiro. O melhor contador do sucesso de um blog é a sua felicidade e satisfação ao fazê-lo e mantê-lo. Escolha dois ou três temas de que você realmente gosta e concentre-se neles, você vai perceber que há várias pessoas por aí que também curtem esses assuntos. Essas pessoas vão aparecer e participar da sua página. Dê uma variadinha de vez em quando, até para descobrir outros interesses em comum com seus leitores, mas siga as linhas principais. Convide os amigos por e-mail, aceite as pessoas que te pedirem em contato (não sem antes conferir a página dela, hehe, vai saber!) e procure passear pelos blogs dos amigos. Faça essa navegação como um passeio mesmo, de fato é gostoso visitar outras casas e deixar também os seus comentários. E lembre-se sempre (e isso talvez seja o mais importante): você não têm que servir ao blog, o blog é que deve te servir. Te servir como instrumento de comunicação e aproximação com aqueles que têm afinidade contigo e com o que você escreve.
Bom, terminando, pelo que eu entendi, você considera que o melhor disso tudo é a interatividade entre pessoas que têm afinidades e interesses em comum, não é? Você fez verdadeiros amigos virtuias? Voce tem mais alguma coisa a dizer sobre isso?
Encontrei grandes companheiros através das letras e da internet. Dos contatos que fiz pela rede conheci pessoalmente mais de vinte amigos. Converso com vários deles por telefone ou em pessoa com bastante freqüência. Enfim, são amizades exatamente como as outras, que surgiram a partir do compartilhamento de opiniões e do respeito e carinho mútuos.
Para encerrar essa entrevista, gostaria de agradecer a atenção da entrevistadora, de textos inteligentes e perguntas idem… dizer que foi um prazer participar da conversa e convidar todos vocês a conhecer o meu blog, que está de portas abertas pra quem quiser se chegar!
Obrigada, Jorge. Adorei!
Amigos, não sou jornalista e essa entrevista foi puramente intuitiva. Procurei não sair do foco para não alongar o texto, mas se alguem quiser saber mais alguma coisa, o Jorge estará por aqui. É só perguntar, ok?
Bjs em todos! :)
Foto do blog ” 1.d vista”